O interprete de Maravilhoso coração, de 79 anos, estava em repouso devido ao cancro do fígado, que lhe foi diagnosticado em fevereiro, quando era atualizado sobre o estado do cancro do pulmao descoberto em 2022. Ao fim de quase trinta anos de lutas contra doenças oncológicas – em 1996, foi-lhe diagnosticado o primeiro cancro, no cólon–, o estado de saúde do cantor de Eu tenho dois amores agravou-se nas últimas semanas, depois de os tratamentos não estarem a resultar. Recomendado a descansar, Marco Paulo faltou à última gala dos Globos de Ouro, sendo-lhe prestada homenagem, e, segundo fontes próximas, tinha retomado a quimioterapia a semana passada. No último ano, o artista lutou contra um cancro no fígado, que nunca lhe deu tréguas. Soube do último quando era informado sobre o estado do cancro no pulmão diagnosticado em 2022. Em fevereiro deste ano, Marco Paulo admitiu que vivia um dia de cada vez. Com o problema no pulmão adormecido, contou que a quimioterapia contra um novo cancro era menos agressiva em comparação com às anteriores, o que lhe dava mais qualidade de vida. Ainda em agosto de 2023, foi obrigado a cancelar espetáculos devido cancro no pulmão. O meu pulmão ainda não está em condições para aguentar ensaios e um espetáculo de duas horas, confessou, na altura, ao JN. Em 2016, Marco Paulo prometia continuar a cantar, enquanto se sentisse bem, enquanto planeava novos álbuns. Não estou a pensar terminar daqui a dois anos, ou deixar de cantar. Eu quero continuar a cantar enquanto o público me deseja e eu sinta que o posso fazer. Se me sentir bem e (se sentir) que as pessoas me apoiam, quero continuar a cantar, mas não vou andar aí a arrastar-me. Vou continuar a ir aos sítios onde eu gosto e me sinto bem, afirmou. No ano seguinte, editou o duplo álbum Ao Vivo No Campo Pequeno - Tour 50 Anos, para celebrar meio século de carreira, e, finais de 2019, depois de ter atuado na então Altice Arena, lançou o CD/DVD As nossas canções, a que se seguiram os singles Abraça-me, Adeus, adeus (Bella ciao) e Jesus Salvador. O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa condecorou-o, em maio de 2022, com a comenda da Ordem do Infante D. Henrique. Em paralelo, Marco Paulo publicou o seu derradeiro álbum de estúdio, "Por ti", anunciado pela editora Espacial, que o representou nos últimos anos, com quatro inéditos de José Cid, Elton Ribeiro, Miguel Gameiro e Nelson Canoa, a par de versões de Roberto Carlos, Erasmo Carlos, e de uma homenagem a Dino Meira. Um mês depois, o artista deu a triste notícia de que tinha cancro no pulmão, otimista em superar mais uma batalha. A primeira vez, há 18 anos, os médicos viram os meus exames e davam-me três meses de vida. Ainda cá estou, mas sempre em vigilância, frisou, recuando até ao cancro na mama que superou. Eu sou muito positivo. Quem já passou por quatro problemas de saúde complicados e vai para o quinto... Tenho a sorte de me rodear de médicos que me permitem tratar-me, acrescentou, embalado pela esperança. Uma carreira imensa Intérprete de êxitos como Eu tenho dois amores e Maravilhoso coração, Marco Paulo recebeu um Disco de Diamante, por mais de 1,5 milhões de discos vendidos. O cantor, cuja carreira esteve ligada durante cerca de 34 anos ao produtor musical Mário Martins na discográfica Valentim de Carvalho, construiu um repertório maioritariamente em português, tendo optado por um modelo de atuação no esteio de referências como Tony de Matos (1924-1989), Rui Mascarenhas (1929-1987) e António Calvário. O perfil artístico que desenvolveu gerou controvérsia pela imagem e estilo interpretativo que cultivou, popular, lê-se na Enciclopédia da Música em Portugal no Século XX (2010). Segundo a sua biografia oficial, 50 Anos a Viver um Sonho (2017), de Cristiana Rodrigues e Ana Oliveira, Marco Paulo cantou pela primeira vez num casamento, quando tinha pouco mais de 11 anos, tendo interpretado La Campanera, do repertório do cantor-menino espanhol Joselito. O nome artístico adotado por José Simão da Silva foi aposta do produtor Mário Martins e do letrista Eduardo Damas, quando assinou contrato com a Valentim de Carvalho ficou firmado. Marco Paulo nasceu a 21 de janeiro de 1945 em Mourão, no distrito de Évora, mudando mais tarde com os pais para Alenquer, no distrito de Lisboa, onde integrou o rancho folclórico local, a partir de 1958. Em 1963, fixou-se com a família no Barreiro, na margem sul do rio Tejo, no distrito de Setúbal. Aqui passou a ter aulas de canto com a soprano Corina Freire (1897-1986). Em 2017, em entrevista à agência Lusa, o cantor recordou a pessoa que o descobriu, a fadista Cidália Meireles (1924-1972), que na década de 1940 se celebrizara no trio das Irmãs Meireles. A fadista ouviu-o num ensaio com a cantora lírica, e levou-o ao seu programa na RTP, Tu cá, tu lá, em meados de 1965. Foi aquele momento, aquela hora, que despontou tudo, disse Marco Paulo. Não tardaram as primeiras gravações, as participações no Festival da Figueira da Foz, em 1966, com a canção Vida, alma e coração, de Eduardo Damas e Manuel Paião, e no Festival RTP da Canção, em 1967, com Sou tão feliz, de António Sousa Freitas e Nóbrega e Sousa. Regressou ao Festival da RTP em 1982, com É o fim do mundo, de João Henrique e Fernando Guerra. O seu disco de estreia, Não sei, de 1966, foi uma versão de António José da canção Vorrei, dos italianos Sergio Bardotti e Gian Piero Reverberi, gravada pelo francês Alain Barriére, em 1965. Seguiu-se um disco com Simone de Oliveira, com a qual gravou Tu e só tu, uma versão de Something Stupid (Carson Parks), gravada em 1966 por Nancy e Frank Sinatra. Em 2016, nos 50 anos de carreira, à Lusa, o intérprete de Ninguém, ninguém afirmou que vendeu milhões de discos, gravou mais de 70 álbuns e EP, contabilizando 140 galardões de platina, ouro e prata, e um de diamante. Marco Paulo argumentou que conhecia o país como poucos, pois atuou em todo (o território), de cidades a vilas e aldeias, sem esquecer os antigos territórios ultramarinos sob administração portuguesa, e as comunidades portuguesas em França, Alemanha, Estados Unidos, Canadá, Venezuela e África do Sul, entre outros locais. Uma carreira imensa que o realizava e foi agraciada, há oito anos, com um Globo de Ouro/SIC-Caras por Mérito e Excelência. À Lusa, fazendo um balanço de carreira, em que até foi atração de circos, onde cantava "Jesus Cristo", de Roberto Carlos, a fechar a atuação, Marco Paulo foi perentório: O público foi fundamental. Quem me fez chegar aqui foi o público, de todas as idades e de todas as condições. Foram eles que compraram os meus discos, que assistiram aos meus concertos, disse, referindo ter tido sempre gente muito competente ao seu lado, de produtores a músicos, compositores e autores. Fonte: JN.pt