António Costa pediu, esta quarta-feira, desculpa aos portugueses pela tragédia dos incêndios de domingo, após ter sido confrontado pelo PSD, no debate quinzenal.
O primeiro-ministro foi claro porque ainda não o tinha feito até agora: "Se não o fiz antes não é por sentir menos peso na consciência".
Horas depois de o presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa ter criticado quem não pede desculpas perante a falta de eficácia da Proteção Civil, Costa foi questionado pelo líder parlamentar do PSD, Hugo Soares, pela ausência de uma palavra de reconhecimento de que o Estado falhou.
Se quer que eu peça desculpas, eu peço desculpas
"Sei que viverei com este peso na minha consciência. Se quer que eu peça desculpas, eu peço desculpas. Se não o fiz antes não é por sentir menos peso. Sei que levarei este peso na consciência até ao fim da minha vida", assegurou o chefe do Governo, acrescentando que nunca deixou de ter na sua consciência outras tragédias com as quais lidou quando foi ministro da Administração Interna, como as mortes de bombeiros portugueses no Chile ou de polícias.
"No meu vocabulário reservo a palavra desculpa para a minha vida privada, enquanto primeiro-ministro uso a palavra responsabilidade e sempre disse que assumiria todas as que viessem a ser demonstradas", disse.
Depois deste Verão nada pode ficar como antes
Antes, António Costa admitiu que tais "acontecimentos [como os de domingo ou Pedrógão] não podem ter lugar em Portugal", considerando que o relatório da Comissão Técnica Independente (CTI), proposta pelo PSD, é um "terreno fértil para construir um consenso alargado".
"Cumpre ao Governo retirar consequências daquilo que foi estudado, de forma a criar condições estruturais para que aquilo que aconteceu não volte a acontecer", afirmou. "Depois deste Verão nada pode ficar como antes. Seria intolerável e a forma de honrar efetivamente com atos e não com palavras quem sofreu, sofre e sofrerá é fazendo aquilo que falta fazer", acrescentou.
Segundo o primeiro-ministro, "é preciso reconstruir o modelo de combate" e "reforçar o pilar da prevenção".
É inequívoco que em diversos momentos e circunstâncias houve falhas graves dos serviços do Estado
"Aquilo que haveria a fazer era transformar em programa de ação as conclusões e as recomendações que constam no relatório da CTI", reconheceu, garantindo que o Conselho de Ministros do próximo sábado servirá para "apreciar e adotar as medidas que permitam passar das palavras aos atos".
Ainda em resposta ao social-democrata Hugo Soares, Costa disse que "do resultado do relatório da Comissão Técnica Independente nomeada pelo parlamento é inequívoco que em diversos momentos e circunstâncias houve falhas graves dos serviços do Estado".
"Portanto, cumpre ao Estado assumir as responsabilidades perante as vítimas de Pedrógão Grande", tendo apontado a necessidade de acelerar as compensações às famílias das vítimas e lembrado que o Parlamento aprovou já uma iniciativa legislativa nesse sentido.
No debate, o líder parlamentar do PSD desafiou o primeiro-ministro a apresentar uma moção de confiança ao Governo no parlamento, mas António Costa remeteu para a discussão da moção de censura do CDS-PP na próxima semana.
Domingo foi considerado o pior dia de fogos do ano, com mais de 500 ignições, que provocaram pelo menos 41 mortos e cerca de 70 feridos (mais de uma dezena dos quais graves), além de terem obrigado a evacuar localidades, a realojar as populações e a cortar o trânsito em dezenas de estradas.
Esta é a segunda situação mais grave de incêndios com mortos este ano, depois de Pedrógão Grande, em junho, em que um fogo alastrou a outros municípios e provocou 65 mortos e mais de 250 feridos.